segunda-feira, 27 de fevereiro de 2023

Zangam-se as comadres, descobrem-se as verdades...

 No rescaldo da eleição do Lula e com a viagem de Bolsonaro aos EUA, começam a surgir mais insurreições contra o "Mito".

Aliás, se observarmos todos os anos desse "glorioso" mandato de Bolsonaro, constatamos que muitas alianças foram sendo quebradas, muita gente que defendia o ex-presidente foi deixando de o defender e em muitos casos foram se transformando em inimigos.

Eu, daqui, na minha ingenuidade e eterna esperança, ficava a pensar: É dessa, é dessa que os enfeitiçados vão começar a enxergar o Jair como ele é. Mas não, nada disso, o insurgente é que passava de bestial à besta em menos de um minuto.

Cheguei até a perguntar à uma pessoa amiga, qual era a desculpa que os bolsonaristas se apegavam para não enxergar o que se passava, e ouvi que os minions viam o seu Gru como uma vítima, eterna vítima, é o mundo contra ele. Nem comento, já desisti faz tempo.

Pelos vistos, até a Carla Zambelli, que na minha opinião era de tal forma "lambe-botas" do ex presidente que era completamente histérica, com atitudes que chegavam a ser humilhantes, ridículas, descabidas e mesmo perigosas, agora volta-se contra o seu líder.

Hoje ao ouvir o Reinaldo Azevedo, a comentar sobre essa alegada briga entre Zambelli e Bolsonaro disse algo, mais ou menos assim: 

 "O mundo se ilumina sempre que temos bolsonaristas brigando, não por aquilo que eles produzem, não por eles serem brilhantes, pois toda a discussão é baixaria, baixaria da grossa. Mas de qualquer modo, quando essa gente está brigando, a perspetiva para o mundo é positiva, a civilidade, potencialmente, ao menos, sai ganhando."

E é isso, ao ver duas pessoas a se zangarem mutuamente, devemos prestar bem atenção naquilo que reportam, na maneira como se tratam e em todos os comentários que fazem. Acho de uma ingenuidade quase estúpida as pessoas que se unem com aqueles quem eles sabem que são maus, que já anteriormente o viram em ação contra àqueles que discordaram deles e se aliam na mesma. Estão a espera de quê, compreensão, carinho e flores?

Há mais psicopatas por aí do que imaginamos, eu tenho visto e convivido de perto.

Quem se alia com os psicopatas em plena consciência, deve ao menos saber qual será o resultado e se preparar para o desfecho. É fatal, eles não mudam. Hoje você é aliado, amanhã, inimigo. Tão certo como dois e dois são quatro. 

E, as verdades que vem à tona quando se zangam são muitas!

Mais um ditado popular, que é simples e profundo: "Zangam-se as comadres, descobrem-se as verdades". E para além das verdades, conhecemos ainda melhor do que é feito cada comadre!


 

quinta-feira, 5 de janeiro de 2023

Stuff, Things, the objects we hang our stories on...

 Os podcasts tem sido uma grande companhia nas minhas idas e vindas do trabalho.

Adoro música, mas adoro uma boa história. Adoro falar, mas adoro mais ainda ouvir histórias, um grande prazer.

Oiço muitas vezes o "Modern Love", histórias tão emocionantes, tão bonitas. Como os locutores falam muito claramente e com um inglês dos EUA, eu consigo entender quase tudo.


Eu sempre gosto muito de tudo, mas tem alguns que me emocionam profundamente. Hoje e escutei um  chamado "One man´s trash"que me tocou imenso e fez refletir num tema que me é caro: Coisas.

Já falei mil vezes que sou desapegada de tudo o que é material no sentido emocional. Para além dos meus diários, cartas e de fotos, quase tudo é pura e simplesmente um objeto. Obviamente meu apego é financeiro com as coisas, dou o valor monetário de cada coisa. Quanto mais caro e frágil, mais eu cuido, mas emocionalmente é uma "coisa".

Meu carro tem valor monetário, se dinheiro não fosse a questão, o carro é o carro, montes de peças juntas que nos transportam de A para B. Talvez o valor que eu dê tenha a ver com a capacidade de substituição. Substituir um carro é muito mais difícil que substituir uma caneta, logo valorizo mais o carro, mas sem apego emocional.

Eu por exemplo não dou muito valor para um livro, enquanto objeto, tanto faz, depois de lido emprestar para mil pessoas, se a capa vem com um amassada, se por alguma razão o livro nunca volta para mim... Quero a história, quero a "alminha" do livro. E, por ser uma "coisa" relativamente em conta, menos valor dou. Se por alguma razão tiver que substituí-lo, é possível.

Uma joia, uma geladeira, um sofá, um enfeite, são "COISAS", das quais eu posso gostar muito ou pouco, mas quero, faço questão de vê-las como coisa. Obviamente há objetos que eu adoro, como um relógio que perdi e depois o Jorge deu-me outro igual, mas lá está, foi substituído.

Tudo tem o valor que a gente dá e, para mim, para não ter tanto apego, que custa, que dói, tento distanciar o meu coração daquilo que dá para substituir...Tem funcionado.


terça-feira, 27 de dezembro de 2022

Livro da Saudade e distrações...

Definitivamente acredito que tenho um problema de concentração. Sou o tipo de pessoa que não consegue estar a fazer apenas uma coisa por vez, talvez o facto de eu começar a limpar a casa, colocar a roupa a lavar, entretanto pagar um conta na internet, colocar a carne a descongelar, no meio disso aproveitar e fazer um telefonema, descer colocar o lixo na rua, tudo de na mesma manhã, possa ser apenas desorganização mental, ou, talvez seja a forma que eu encontrei de estar alerta, talvez precise ir mudando de atividade, para conseguir estar atenta, concentro um pouco em numa coisa, passo para outra, depois volto e vou conseguindo realizar coisas, fica feito, mas assim caoticamente.


No fim desse ano, há alguns meses, comecei a ler um livro, e ao mesmo tempo outro, e loucamente iniciei outro mais! Três livros ao mesmo tempo e olha, tem sido positivo. Na mesma lógica das atividades do dia a dia, concentro numa coisa, no caso num livro, quando começo a distrair, pego em outro livro, repito o processo e daí aos bocadinhos vou dando conta das leituras.

Tudo isso para contar do último que terminei ontem, o Livro da Saudade, da autora Sue Monk Kidd.

Como todos sabemos, a história da vida de Jesus foi sendo contada, e com toda certeza adaptada.

A autora imaginou que Jesus tivesse sido casado, e fez de sua esposa a protagonista da história. Ana.

Um livro que fala da força da mulher, da forma como é vista e tratada na sociedade. Fala do amor.

Em segundo plano fica Jesus, mas nas poucas pinceladas, aparece como eu aprendi e imaginei, um ser de bondade, de amor, de perdão. Exaltava os humildes, celebrava a igualdade. Pacificador.

Uma bela história, que dá muito no que pensar. Mas lá está, tem que pensar.


terça-feira, 29 de novembro de 2022

Quase correr...

Desde que mudei-me para Portugal, por culpa da turma de amigos do meu marido, sempre a "corrida" fez parte da minha vida. Nunca corri grande coisa, mas participei de várias mini-maratonas. Já lá vão muitos anos e houve sólidos anos em que não corri.

2004 corri atrás futuro 1º ministro

Com a pandemia, o ginásio sempre causou-me um certo medo, se calhar ainda o único lugar em que me sinto desconfortável, muita gente bufando ao mesmo tempo e nem sei dizer exatamente quando durante a pandemia, voltei a correr. Mas não é bem uma corrida, descobri hoje que o que eu faço é mais um jogging, quando li na NiT essa definição do PT Tiago Silva:

“Já o jogging consiste em correr num ritmo menos acelerado, sem pensar em tempos ou distâncias por questão de stress ou até de saúde. No fundo, ninguém esta ali para bater recordes pessoais nem atingir grandes objetivos. Passa muito mais desfrutar da vista e de toda a envolvente. Portanto, controlar os batimentos e ritmos também não é uma necessidade”, conta à NiT o também criador do grupo “No Limit Runners“.

Achei a definição perfeita para lá o que eu faço. Corro devagar, corro me poupando, corro sem desejo de superar os meus limites, pois já os considero superados uma vez que que custa-me tanto estar a fazer aquilo que eu faço, vai tão contra a minha vontade, que estar ali, para mim já é uma grande superação!


Outro dia, uma senhora que trabalha num sítio onde eu costumo passar a quase-correr, me parou para explicar que tem me observado e acha que eu estou estagnada, não evoluo, estou sempre no mesmo passo, e que devia fazer isso e aquilo...Tentei argumentar, explicar as minhas intenções, motivações, mas ela estava tão convencida de que eu estava  sendo pouco, que desisti. Esses anos de Bolsonaro e Trump esgotaram completamente a minha capacidade de tentar argumentar. Chega naquele ponto em que eu digo: ok, está certo e sigo.

Desde que voltei a quase-correr, tenho sido consistente e sistemática, sinto mesmo resultados no meu corpo, tenho conseguido manter o meu peso, tenho me sentido bem. Sigo odiando cada passada, o que me motiva é saber que vai acabar!

Portanto tem sido assim, como em tudo sou pouco ambiciosa, mas acho que uma coisa boa da meia idade é ser generosa comigo mesma, é dar aquele beijinho no meu ombro e dizer: tá ótimo Maria Eugênia, tá ótimo!


 

quinta-feira, 17 de novembro de 2022

Por que raio eu fui perguntar?

 Essa mania idiota que temos de achar que conseguimos influenciar em  alguma coisa no mundo através do nosso pensamento...

Eu, quando fico nervosa, tenho a tendência para a superstição, e quanto mais nervosa, mais acredito que a culpa é minha, pois pisei na parte escura da calçada, ou contei algum segredo, qualquer coisa, que mental e ridiculamente eu estabeleci comigo mesma que se fizesse iria acarretar na terceira guerra mundial... Enfim, quem nunca?

Há muitos anos tenho medo das respostas que a vida dá às minha perguntas julgadoras. Cresci no rescaldo da 2ª Guerra Mundial, onde não havia grandes dúvidas sobre o mal do nazismo, era criança quando o regime militar acabou no Brasil, e cresci num mundo onde a tortura era mal vista, com quase concordância de todas as pessoas. 

Mas o tempo passa e tudo vai mudando, aos poucos, gota a gota. E a resposta para as minhas perguntas internas: como as guerras acontecem? como alguém apoia uma ditadura? apareceram. O mundo e o seu retrocesso mostraram claramente como  pessoas com as quais eu convivi apoiam protoditadores, como apoiam o ódio. Pessoas normais, que hoje treinam tiro, como se arma fosse uma coisa boa.

Parecem que decidiram que o ódio vale mais a pena e como na segunda guerra mundial, precisam de um bode expiatório, alguém que seja culpado pelo insucesso, pelo mundo estar tão mal.

Em 1939 a culpa foi dos judeus, hoje a culpa é dos pobres, dos desfavorecidos. São para abater, mão tem direito, são maus.

Assitir qualquer abominável discurso do Trump, com aqueles trejeitos ridículos, falando do "Muro", criminalizando constantemente a imigração de outras partes da América, misturando imigrantes com traficantes, para deixar as pessoas confusas, com medo, e logo, prontas para o ataque, semeando o ódio, sempre revirou-me o estômago.

Essa gente de bem, que se farta de colocar a palavra "deus" em cada frase, achando que só por dizê-la, transforma-se automaticamente numa boa pessoa, e a sua ação, numa boa ação e aliviam a sua consciência, também reviram-me o estômago.


Ando super cansada do mundo, super desanimada...Me arrependo de pensar tanto nessas questões, preferia nunca ter percebido como as pessoas se transformam nesse pacote de hipocrisia e egoísmo.Parece que tudo tem que acontecer mais uma vez, o terror, as perseguições, a falta de liberdade, o medo, para que as pessoas voltem a valorizar a democracia e o bem. Quando nessa minha existência eu imaginei que haveria pessoas a chorar e pedir pela volta da ditadura?

Ontem acabei de ler um livro chamado "Terra Americana" e ainda estou com a cabeça a roda, sentindo-me minúscula.

Lembrei de um filme que eu assisti há muitos anos, onde dois amigos estão a conversar e quando proferem frases preconceituosas na cena seguinte acontecem coisas nas quais eles se vêm na mesma situação daqueles de quem eles falaram com preconceito. Tipo falam mal de um judeu e ao sair do bar vem a Gestapo e os persegue... Enfim, acho que nem todas as situações precisariam ser sentidas na pele para ser "sentidas", mas... quando não vai pelo amor, vai pela dor...



domingo, 13 de novembro de 2022

Ai, a maldade...

 Mais uma vez utilizo da sabedoria popular para escrever.

Dessa vez pensei na fábula da tartaruga e do escorpião.

Basicamente essa é a história:  o escorpião quer atravessar o rio e pede ajuda à tartaruga, que responde que não vai ajudar porque o escorpião pode picá-la. O escorpião convence a  tartaruga com o argumento de que se picar a tartaruga vão morrer os dois, no meio do rio. A tartaruga fica assim convencida e aceita levar o escorpião, que no meio da viagem impinge uma picada. A tartaruga fica chocada e antes  de morrer pergunta ao escorpião a razão daquilo, uma vez que ela já começava a afundar e ambos vão perder a vida e o escorpião responde: não há razão, é a minha natureza.

E é isso, caramba, muitas vezes acho que nada mais está por ser descoberto nesse mundo, as fábulas , os ditados populares explicam tão bem as relações e como as pessoas são quem nem é preciso fazer análise.

Tem gente que é assim, de natureza má. Como tem dentro delas ranço, maldade, desassossego, estão sempre a criar situações, inimigos, perigos que nem existem. Reagem com loucura a qualquer estímulo, desconfiam das coisas mais idiotas.

Como são pessoas que estão o tempo todo a tentar tirar vantagem, acreditam piamente que os outros tem a mesma natureza, portanto são desconfiadas, porque de maldade, elas entendem, e conseguem imaginar mil cenários em que a outra pessoa possa estar a ganhar qualquer coisa. Sempre alerta a reagir de forma histérica.

Inventam guerras, maledicência, mal estar. Tornam o mundo muito pior com a sua presença, não são felizes e ao invés de buscar a felicidade tentam nivelar o mundo que os rodeia por baixo, tentam que todos estejam infelizes, assim, sentem-se mais confortáveis. Nada a fazer, é da natureza dessas pessoas.




segunda-feira, 7 de novembro de 2022

Ficar no sofá? Sair do sofá? Eis a questão...

 Lembro da minha mãe sempre contente quando chegava a hora de ir para a "caminha" dela.

Eu, quando comecei a prestar atenção nessa predileção, era adolescente, e ir para a "caminha" não era de todo algo apetecível, achava uma perda de tempo fora do comum.

Dormir, ficar no sofá, ficar em casa, naquela fase da minha vida era sinal de fracasso, de fim-de-semana estragado.

Com o passar do tempo, vou gostando cada vez mais desse "dolce far niente", chego a pensar, na hora que acordo, para me animar:- Logo volto pra cá, força, logo voltará para a "caminha".

Detesto muitos finais-de-semanas com coisas combinadas. Parece que já fica estragado, gosto de imaginar que eu terei opções, estará em aberto. Sempre opto por ficar em casa, dormir...que delícia!

Mas esse último fim-de-semana foi diferente. Na sexta fui à um Clube de Leitura que comecei a

"as mininas do Clube"

frequentar e geralmente se reúnem às Sextas-feiras. Titubei um bocadinho, pensei por uns segundos em não ir. Deu uma preguiça, uma vontade de me atirar ao sofá. Preguiça de trocar-me, preguiça de fazer pão com azeitonas (tenho a impressão que elas gostam de mim porque eu levo pão de azeitonas kkk), preguiça de no pegar no carro and so on...

Mas, fui. E como sempre, foi mágico. Confesso aqui que, vou muito mais pelas companhias, pela partilha, pela beleza de troca que senti e sinto ali, do que propriamente pelos livros. Honestamente, dicas de leitura tenho tantas, que acho que nem que viva até aos 100 anos terei capacidade para dar conta desse recado. O que gostei foi estar com elas. Gosto de gente e aquele grupo me atraiu de uma maneira, que parece que era mesmo para lá que eu tinha de ir. Foi muito giro.

No Domingo, o sofá perdeu de novo. Lá me levantei e fui para o Museu do Bordalo Pinheiro, com uma grande amiga, participar da primeira de quatro sessões de um curso de cerâmica. Eu tenho um caso de amor com muitas peças do Bordalo Pinheiro e foi um grande prazer.

A menina que estava a dar o curso, nos deu um pedaço de barro, e cada um moldava a sua maneira (resumindo o acontecido). Eu, meio que sem saber o que criar, lembrei que uma vez tive de fazer um presépio para escola de um dos filhos, depois já estamos entrar na época natalícia, depois estou a ler um livro que fala em Jesus... e todos os caminhos me levaram a fazer uma cena da natividade.

Dei a primeira "de mão", semana que vem continuamos... 

Minha obra de arte
Sempre tive vontade de fazer isso


 









 

E pronto, o sofá perdeu-me, e eu ganhei muito nesses dias! Rico fim-de-semana!

domingo, 23 de outubro de 2022

A minha casa e a sua casa

 Há poucos anos, descobri que não mostrar a minha casa para alguém que cá vem, pela primeira vez, é sinónimo de falta de educação.

Não estou sendo irónica, eu não sabia. Nunca mesmo imaginei que cometesse essa indelicadeza quase sempre. Sempre que posso, evito mostrar a minha casa toda.

O meu lema está logo na entrada


Essa "falta de chá" tem muitas razões que vou tentar enumerar aqui:

* minha casa é uma bagunça, tem sempre inúmeras "coisas" que ainda não sabemos o que faremos com elas, e ficam assim, num canto qualquer, até eu ter um ataque de fúria e dar um fim triste tudo...

* somos pessoas descuidadas, esquecemos coisas íntimas, aqui e ali, entre nós os quatro não há grande confusão, mas nem por isso temos orgulho em que a visita veja: pacote de absorvente, cuecas e calcinhas a secar penduradas num canto do banheiro, sutiãs que ainda vão ser usados mais uma vez, na bancada da pia...Coisas que eu acho normais, mas não quero que todos vejam.

* nem sempre a cama está arrumada...confesso...

* nem sempre as escovas de cabelo estão despidas de fios, confesso.

* nem sempre o pessoal que vive aqui lembra de tirar aquele suporte de rolinho de papel higiênico, quando o mesmo acaba, não sei, acham que a mão vai cair se o atirarem para o lixo... É comum encontrá-los na bancada da casa de banho.

* aquela roupinha que ainda vamos usar mais uma vez pululam nos quartos...

Enfim, nossa casa está longe da ordem que deveria ter para receber uma visita, confesso.

E já que estou aqui, abrindo o meu coração e contando tudo aquilo que deveria ocultar, vou dar essa bomba: para que alguém venha jantar aqui, nesse humilde lar, chega um ponto em que tiro tudo aquilo que "não sei ainda o que vou fazer com isso" e jogo num dos quartos, que obviamente não tenho vontade de mostrar.

Mas, muito honestamente, se alguém estiver aqui em casa, e por qualquer razão tiver que entrar numa divisão onde não consegui disfarçar o caos, olha, engulo seco, penso nisso três segundos e depois nem penso mais nisso. É assim, é a minha casa, pense o que quiser, meio que tanto faz.

Em compensação, eu não faço questão de conhecer a casa de ninguém. Ninguém mesmo. Não me suscita grande curiosidade, basicamente estou "marimbando" para a forma como as outras pessoas organizam e decoram a casa deles. 

Se quiserem mostrar, aceito alegremente, agradeço, mas dois minutos depois já nem lembro bem como era a casa. Claro que enxergo, gosto, não gosto, inspira-me ou não, mas lá está, não é problema meu, não tem qualquer impacto na minha vida. Caguei. Mesmo.

A verdade e que eu tenho imensa preguiça de ir à casa dos outros, prefiro estar na minha. São poucas as casas em que estou super a vontade. Gosto mais de estar na minha.

Assim, vamos organizar: tenho pouca curiosidade de conhecer a casa dos outros, se me convidar, não se preocupe em fazer um tour. Se quiser fazer o tour, o farei com gosto e só vou falar daquilo que eu acho bonito.

Se quiser conhecer a minha casa, peça, provavelmente se lhe convidei para jantar aqui é porque sinto-me bem consigo e passo na boa a vergonha daquela baguncinha básica. No fundo não é algo que me preocupe muito. Só acho mesmo que um tour pela minha casa não é algo muito excitante, é uma casa como outra qualquer, só que mais bagunçada. 

Eu gosto, me interesso por gente, pela história das pessoas, reparo em fotos, quadros que me inspiram... Disso tudo eu levo um bocadinho, na minha memória, no meu coração. Quanto a maneira que os outros organizam as suas casas já disse e repito: CAGUEI.

segunda-feira, 10 de outubro de 2022

Peito de Frango picante com couscous

 Ingredientes:

Para o frango:

3 peitos de frango ( mais ou menos 450 grs);


1 cebola média;

3 dentes de alho;

Meio suco de limão; 

2 colheres de chá de alecrim;

2 colheres de chá de tomilho;

2 colheres de chá de cebolinho, pode ser fresco ou seco;

2 colheres de chá de noz-moscada;

1 colher de chá de canela em pó;

1 colher de chá gengibre em pó;

1/2 chávena de molho de soja;

2 colheres de sopa de azeite;

Pimentas, na quantidade e sabor que a cada um é mais apetecível;

Para o Couscous

250grs. de couscous;

300grs de água a ferver:

Sal e pimenta a gosto, ou meio cubo de caldo knoor.

 Modo de Fazer o Frango:

Colocar todos os ingredientes (expeto os peitos de frango) num robot, bater até formar uma pasta, colocar  tudo num recipiente, com os peitos de frango, deixar marinar por algumas horas (pode até deixar de um dia para o outro no frigorífico).

Na hora de colocar no forno, dispor numa forma, tirando o excesso de molho.

Colocar no forno a 200º e quando estiver caramelizado, está pronto. 

Modo de fazer o couscous:

Colocar o couscous num recipiente fundo, pode ser até o mesmo em que ele  vai ser servido. Entretanto, ferver 300grs de água com sal e pimenta, ou se preferir, meio cubo de caldo de galinha, assim que ferver, colocar a água no couscous, tapar com um pano de prato, que o couscous fica pronto em 5 minutos.

E já está! Fica delicioso!


 

 


quinta-feira, 6 de outubro de 2022

"Cão que não conhece o dono"

 Adoro os ditados populares! Vou tentar manter um hábito de sempre que me lembrar explorar algum!

Hoje é: "cão que não conhece o dono".

Bem, começo por dizer que os ditados populares me encantam no sentido de serem simples, diretos e assertivos.

Quando eu fui gerente num café, tinha sob meu comando umas 8 pessoas. Detestei a experiência, foi das coisas mais frustrantes da minha vida e conheci pessoas que o lado positivo desse conhecimento foi saber que nunca mais as veria! 

Eu tentei de mil maneiras ajudar muita gente, tentava ser compreensiva, emprestei (dei) muito dinheiro para vários funcionários e no fim-do-dia: reclamação, má-criação, traição. Parecia que tinham uma eterna raiva de mim.

Um dia, uma das senhoras que lá trabalhava disse-me: Eugénia, pare de tentar ajudar porque isso é "cão que não conhece o dono". Pensei, que ditado brilhante!

Ele diz tudo, é imaginar um cão, por norma um ser fiel e amoroso, não reconhecer aquele que o ajuda.

São aquelas pessoas que por mais que se faça, que se tente ajudar, guardam uma raiva interna, parece que são combativas logo de cara, desconfiam, se acham mais espertas. 

É um caso perdido. Fez-me lembrar uma pessoa que sempre dizia uma coisa de forma arrogante, mas que muitas vezes é verdade: não tem o substrato para entender a relação. E é isso, muita gente cresceu numa família, num clima de competição, de mal ambiente, de guerra. Provavelmente onde o outro era visto como inimigo, e depois não conseguem reconhecer o amigo, tudo o que vem pela frente é para combater.

Acho que não há volta a dar, é ir lidando, e sempre que possível, se afastar.

Quem não aprende ser bom, nem reconhece bondade, está inapto para esse sentimento. Perde o melhor da vida, que são as duas vias da gratidão, que é sermos felizes por reconhecer o bem que nos fazem, e é ser felizes quando alguém reconhece o bem que fizemos.

Conselho (que ninguém pediu), cuidado com o "cão que não conhece dono", uma hora ou outra ele morde você! 


quinta-feira, 1 de setembro de 2022

Cubo mágico ( Cubo de Rubik), amizade mágica

 

Estávamos num restaurante em Ayamonte, onde sempre há muitos portugueses.

Dessa vez não foi diferente, quase todas as famílias que lá almoçavam eram portuguesas.

Havia uma mesa ao lado da nossa com algumas crianças, uma delas, um rapaz decifrava um cubo mágico, logo, o Gui, inspirado, começou a fazer o cubo que ele tinha, que era diferente do outro rapaz, que, no momento que viu a variante do Gui, ficou logo curioso, olhando...

Eu, que adoro gente, incentivei o Gui a ir emprestar o seu cubo para o menino, e aquilo foi instantâneo, começaram a brincar juntos, numa troca e numa harmonia muito bonitinha.

Chegou a hora de ir embora, eles trocaram o número do telemóvel, e o Pedro (rapaz com quem o Gui estabeleceu a brincadeira), escreveu no contacto : Guilherme Amigo.

Simples assim: Guilherme Amigo. 

Uma vez no carro, enquanto o Gui e o pai debatiam as formas de pensar no cubo, eu só pensava na beleza daquele contacto: Guilherme Amigo.


segunda-feira, 1 de agosto de 2022

Friends e a dura realidade...

 Acho que fui uma das últimas pessoas a ver o reencontro dos Friends, que foi em 2021.

Honestamente não lembro de acompanhar assiduamente a série quando vivia no Brasil, mas quando vive nos EUA, 2000-2001, assistia quase todos os dias.

Era divertido, sem grande profundidade. Sempre gostei, sem amar.

Mas não é sobre isso, mas sim, sobre envelhecer, que eu quero escrever nesse post.

Muito mais do que aceitar a idade, está sendo difícil realmente incorporar, enxergar-me com quase 50 anos. E não, não é porque eu rejeite a minha aparência, mas tenho a certeza absoluta que eu me vejo muito melhor do que aquilo que devo aparentar. Imagine uma anorexia ao contrário, estar gordinha e se enxergar magrinha, eu sou velhinha mas me vejo mocinha...

Bem, não diria mocinha, mas como não me sinto tão "entradota" tenho dificuldade de entender que sou uma senhora, mesmo com quase, quase 50 anos. E, como eu sempre digo, ninguém nunca me dá menos idade do que aquilo que eu tenho, assim, certamente tenho, com sorte, cara de 50. 

Há uns dias tenho pensado em fazer alguma intervenção com a minha papada. Acho que cada pessoa tem aquela carga genética e é difícil fugir dela, a papada é uma herança familiar, ela cá canta, e tento que não apareça nas fotos, mas na vida real não há como remediar. Também é preciso dinheiro, confiança, informações, e isso leva tempo, há pouco tempo, a papada vai crescendo, a vida vai passando... sei lá, uma hora vejo isso melhor.

Mas, é aí que entra os Friends. Olhei para o pessoal e vi mesmo uma bando de idosos, sem dó, nem piedade. Duas delas, que devem ter feito muitas intervenções, estão simplesmente com cara de idosas que fizeram plástica, mas há qualquer coisa, que não dá para negar, mudar, esconder. Pode-se ficar com cara mais esticada, mas há algo, um brilho no olhar, na pele que vai embora...não há milagres.

Estive ali, a analisá-las e conclui: se elas que vivem da imagem, tem acesso a todos os cuidados possíveis e imaginários do planeta Terra, estão, assim como eu , despencando....olha F@da-se, deixa eu envelhecer em paz, porque mesmo que tivesse acesso a tudo, seria mesmo isso: uma velha esticada, nunca uma jovem. É aceitar, que dói menos!





quinta-feira, 23 de junho de 2022

Bullying e ilações

 Sofri alguns bullying e pratiquei bullying, mas não faço disso um grande drama.

Reconheço que não faço disso um grande drama porque superei bem. Aliás tenho em muitos dos casos, a sensação de final de novela: muito das pessoas que me fizeram bullying, que eram mesmo muito "mazinhas", engoliram cada sapo nesse caminho, que eu nem precisei desejar mal, a vida se encarregou.

Não sou santa, estabeleço uma conexão e sinto-me vingada.

Mas teve uma pessoa em particular que eu tomei como o meu saco de pancadas. 

Ela era, é talvez, um amor. Nunca me fez nada de mal, pelo contrário sempre tratou-me bem. Não merecia.

Muitas vezes pensei nela, pensei em pedir desculpas, dizer que eu tinha sido tonta, má.

Fui procurá-la no facebook, dar uma avaliada na vida dela... 

A primeira frase que eu li era qualquer coisa como: Bolsonaro é o Mito, que veio salvar o Brasil.

Desisti.

Não sou santa, estabeleço uma conexão e sinto-me perdoada.

 


terça-feira, 21 de junho de 2022

O Lulu Santos me salvou

 Tive um namoro que até hoje não entendi muito bem porque deixei rolar mais tempo do que deveria.

Sei lá se foi comodismo, se foi não querer ir contra as expectativas das outras pessoas, se foi ter dificuldade em magoar a pessoa em questão, se foi falta de pensar clara e profundamente sobre o que eu sentia... Muito provavelmente foi tudo isso misturado.

Esgotei todas as possibilidades, cheguei no meu limite máximo de suportar aquela relação. Tenho até pena, porque se tivesse terminado antes, talvez conseguisse lembrar daquele tempo e sorrir, mas quando penso, vem um "irc", aquilo mesmo do enjoo, o meu corpo reage com aquele tremilique de pânico e rejeição. Foi do : maravilhoso» bom» "nhé"» chato» chatíssimo» in-su-por-tá-veeeeeel.

Eu não era feliz, mas me sentia condenada àquilo, parecia que era inevitável, que não tinha como acabar com aquele relacionamento. Estranho, não é?

Eu era nova, não tinha nada que fosse complicado, tipo: filho, comprado uma casa juntos, um carro, nada!

Vendo em retrospetiva, a grande maioria das pessoas que eu sentia que poderia ferir, caso eu terminasse esse namoro, hoje em dia eu nem falo com algumas e outras nem se lembram que eu tive esse namorado! Porque eu "geri" essas expectativas dessa gente toda? Ninguém me agradeceu por isso, não influenciou na vida de ninguém, for god sake!

Para mim aquilo era tão difícil que pensei algumas vezes que se eu morresse o problema ficava resolvido, sem eu ter que lidar com ele. Louco, né?

Mas um dia, fui ao show do Lulu Santos, e quando começou a música "Assim caminha a humanidade", na parte do "não imagine que te quero mal, apenas não te quero mais, não te quero mais, não mais, NUNCA MAIS", foi como se o céu se abrisse, como tudo ficou claro e super simples. Sabe a sensação de estar a procura de uma coisa e dela estar ali, na nossa frente, que é até estranho?

Nesse mesmo dia começou o processo de término, que foi um bocadinho mais complicado do que eu queria, mas em duas semanas ficou resolvido. 

Juro que quando lembro disso não entendo. Já lá vão tantos anos e eu não entendo. Por que foi tão difícil? Até hoje eu não sei. 




quarta-feira, 15 de junho de 2022

Implicância com...

 Quem chama cachorro de "doguinho"

Quem não percebe os sinais de desinteresse e continua falando

Quem conta detalhes que não importam

No trabalho, quem se aproxima da minha mesa e antes de falar fica a ver o que tem na minha tela do computador

Quem batuca

Quem fala alto no telemóvel

Quem está sozinho num café e fica ouvindo alto qualquer coisa no telemóvel

Quem faz um elogio que mais parece uma crítica, tipo: hoje sim, está bonita!

Quem avisa que temos uma borbulha no rosto

Quem fica reparando no que a gente está comendo, como se nunca comesse nada disparatado (principalmente se essa pessoa é mais gorda)

Quem, imediatamente após vc desabafar sobre um tema, comenta como é bom, se dá bem naquele tema. Tipo: meu emprego está uma merda, e a pessoa diz, imediatamente- o meu emprego está maravilhoso!

Quem é burro e sempre faz o maior ar condescendente

Quem deve e nunca dá uma satisfação, finge que não lembra

Quem fica perto na fila do supermercado

Quem enrola na fila do supermercado

Quem não cumprimenta 

Quem é injusto

Aquele momento que entra propaganda da televisão e o som aumenta

 

 


terça-feira, 7 de junho de 2022

Se a Lê pode, a Gê pode!

 Já há alguns anos vem nascendo, de maneira exponencial, muitos dos meus cabelos brancos.
Como com a idade não só são os cabelos brancos que surgem, vem também o esquecimento, antes de começar esse post fui verificar se já havia falado do tema, falei em 2014, achava que nunca iria assumir cabelos brancos... é pois é... Tudo muda...
Bem, penso que mesmo que tivesse muito dinheiro, não teria a paciência para ir retocar os cabelos todos os meses. Também acho que o natural sempre é mais ... natural.
Fonix, é a vida, os cabelos ficam brancos... que tal aceitar?
Como não sou pessoa de grande personalidade, preciso de um ídolo que me dê uma força e já há um ano, vendo as "Holas" da vida, descobri que a D. Letízia de Espanha assumiu os fios brancos...
Assim surgiu o meu lema:

SE A LÊ PODE, A GÊ PODE!

Voilà! Me assumi, não quero mais nem saber, cabelos brancos já cá cantam!
E estou feliz assim!

 



quarta-feira, 9 de fevereiro de 2022

O pior "fora" da minha vida!

 Corria o ano de 1989/90, eu era aluna do Colégio São José, na minha cidade, no interior de São Paulo.

O Colégio acaba de completar 100 anos, então na altura do meu "fora", o colégio tinha 68 anos, mais coisa, menos coisa...

No dia 7 de Setembro as escolas da cidade participam de uma fanfarra, que desfila na rua principal, para comemorar a libertação do Brasil das garras dos portugueses (kkk), e no São José não era diferente, a nossa fanfarra era muito legal, e participando dela ganhávamos alguns pontos em diferentes disciplinas.

Eu não era uma boa aluna, precisava dos pontos, mas não era boa a tocar nenhum instrumento, e acabava por ficar com um surdo, que era o mais fácil de todos ( e mesmo assim, tocava mal) e muitas amigas que ficavam com as caixinhas de repique e davam um show.

Acho que também era divertido tocar, levávamos para casa o instrumento, desfilávamos pelos cafés em grupos de amigas, fazia parte da fase. 

Era bem pior do que esses...

Não bastasse a humilhação de tocar um surdinho, naquele ano o único surdo que sobrou foi um super velho... ele era bege, gasto, grande. Sair da escola com ele (o surdinho) e ir para os café da D. Leny, era uma vergonha, enquanto as outras meninas tinhas as caixinhas prateadas e brilhantes, lá ia eu com um surdinho que era quase do meu tamanho, Rua Alferes Franco acima...

Não contente com toda a tristeza que o surdinho me proporcionava, ainda consegui piorar a situação.

Num belo dia, estava eu a fazer as unhas numa manicure, enquanto uma senhora, que ficou sentada ao meu lado, esperando o esmalte secar começou a conversar, e perguntou  em que colégio eu estudava, e ouvindo a minha resposta disse:

- Eu também estudei no Colégio São José! Aliás eu fiz parte da primeira fanfarra da escola!

Eu eu, sem pestanejar deixei escapar da minha boca a seguinte frase:

- Olhe, então o surdinho que me calhou esse ano deve ser do tempo da senhora, pois está caindo aos pedaços!

....

Sim, eu disse  isso, alto e em bom som. Claro que o meu problema não era com a senhora, só conectei o facto de o surdinho ser antigo, com a inauguração da fanfarra... e saiu-me essa pérola.

Escusado dizer que a manicure olhou para mim em pânico, lívida, naquele mesmo milésimo de segundo que eu dou conta da frase que disse e que já não dá para voltar atrás...

Até hoje, quando conto a história sinto um gelado no corpo, que mistura vergonha com arrependimento.

Naquele momento gaguejei, pedi desculpas e disse a célebre frase: Não foi isso que eu quis dizer.

Mas já estava dito. Talvez tenha servido de lição. Hoje dou risada, mas no dia até chorei de vergonha... coitada daquela simpática senhora, podia ter dormido sem essa... enfim, são coisas que acontecem!


 


segunda-feira, 31 de janeiro de 2022

A sabedoria da traça

 Já vi inúmeras vezes traças em casa.

Sempre achei um bichinho curioso, que usa muitas artimanhas para fugir e sobreviver. Ela anda, corre, para e se esconde de uma maneira que parece elaborada.


O que a move? Inteligência e estratégia? Claro que não, é puro instinto de  sobrevivência. Lá dentro dela ela sabe, quando ir, quando parar, onde esconder.

Fiquei olhando para uma gordinha, que passeava cautelosamente pela minha sala, enquanto eu aspirava.

Comecei a pensar em mim mesma e na quantidade de vezes que ignoro o meu instinto e depois de acontecer alguma coisa, alguma revelação, penso comigo mesma: putz! eu tinha sentido algo estranho naquela pessoa e ignorei.

Meu instinto nunca falha. Nem tudo eu pressenti, mas tudo aquilo que eu pressenti, mais tarde ou mais cedo revelou-se como certo.

Quando estamos com alguém e uma palavra, um gesto, um olhar, uma reação nos parece "estranha", temos de prestar atenção. É o nosso instinto a nos dar um sinal. 

Talvez a nossa racionalidade misturada com a nossa vontade de que a coisa corra bem, nos faz ignorar esse pequeno sinal, mas como o instinto nunca nos engana,  mais cedo ou mais tarde, percebemos a realidade.

Claro que é difícil nos reger somente pelo instinto, pois é difícil explicar e provar a razão do nosso afastamento, da nossa estranheza.Muitas vezes leva algum tempo para a revelação, mas acredite, ela chega.

Assim, tenho tentado colocar um "post-it" imaginário nas pessoas que me fizeram sentir "algo estranho", e tento me cuidar, avaliar os meus passos e não me comprometer, usar a sabedoria de uma traça, para sobreviver às decepções.

 


quinta-feira, 13 de janeiro de 2022

A Mão de Deus

 Essa semana bati os meus recordes de conseguir assistir filmes. Vi três. Gostei dos três.

Mas, há o "gostar" e há o  "fazer uma marquinha no coração", de repente imaginei o meu coração com uma "mini me", prisioneira, lá dentro e tal e qual aos presidiários que vão fazendo aqueles risquinhos na parede, a contar cada dia de sua pena, a pequena Eugeninha faz um risquinho para cada coisa importante, cada filme, cada música, cada amigo, cada emoção...

Cada mini coisa que vejo, vivo, leio, oiço, sinto que fica ali, naquele pedacinho vital do meu corpo. Como se houvesse outra "mini me" no meu cérebro, e mandasse o recado para sua gêmea cardíaca: "esse input merece uma marquinha!" 


 Esse é o tipo de filme que nunca vou esquecer.

Lindo demais, duro demais. Apaixonante.

Novamente Nápoles entra na minha vida de maneira arrebatadora, antes com os livros da minha Deusa, Elena Ferrante, ontem com a "Mão de Deus".

Durante o filme eu via Nápoles e pensava: que sujeira, que barulho, que confusão, quanta injustiça!

E ao mesmo tempo via o que se  via desde Nápoles, o mar, as ilhas, de uma beleza enorme, o carinho entre as pessoas. Ocorreu-me algo estranho como, de tão humanos acabam se tornando desumanos.

Tudo é tão a flor da pele que extrapola para o animal, o instintivo...

Como há muito tempo percebi que o contrário do amor é a indiferença, não o ódio.

Talvez o exagero do sentimento tão humano nos torna animais. Assim como a contenção dos sentimentos, a organização exagerada, a assepsia, a absoluta e incontestável permanência dentro das regras nos torna conceitualmente mais ser humano, mas ao mesmo tempo desumaniza.

E assim é retratado o povo latino, abismo de sentimentos, para o bom e para o mal.

Adorei.


quinta-feira, 16 de dezembro de 2021

Para criar uma adolescente é preciso uma aldeia!

Para criar um filho, é preciso uma aldeia.  

Não creio que precisasse ter uma filha adolescente para chegar a essa conclusão. Apesar de ter deixado a adolescência há muitos anos, ainda me lembro bem daquilo que sentia, e talvez por isso, consiga compreender as fases da minha filha e tentar orientar o melhor que consigo. Repreender, compreender, incentivar, ajudar...

Não é fácil ser adolescente, é o auge da preguiça, do egoísmo e da ansiedade. É uma fase que queremos muito e temos pouca vontade de retribuir. Achamos que o mundo está acabando e que cada dia é um dia a menos. Queremos "aproveitar a vida", só existe o hoje...

Não bastasse o corpo numa confusão hormonal gigante, não bastasse o novo mundo cheio de novas descobertas, todas as adaptações, os desafios, as primeiras paixões, os novos amigos, novas músicas, novas roupas, novas experiências, é uma fase em que é preciso concentração, trabalho duro e  muitas regras. 

É uma fase decisiva para o futuro, é a preparação para a entrada numa universidade, para criar hábitos de trabalho, hábitos de estudo.

Nessa fase é muito bom que os nossos adolescentes estejam num meio onde ele seja compreendido enquanto adolescente, que tenham professores que consigam "perdoar" as atitudes mais rebeldes, que percebam que é uma fase, que ajudem constantemente a colocar de volta nos trilhos esse comboio que vem em alta velocidade, afinal é só uma fase, vai passar.

Não acho que deva ser fácil, de maneira alguma, mas é olhar para trás e avaliar: que marca eu deixei naquela pessoa quando tive a oportunidade? Contribuí com o seu desenvolvimento ou com a sua desistência?

Mais do que ensinar, talvez inspirar, dar exemplo,  fazer acreditar. Só assim, de forma positiva, conseguimos fazer com que essa gente quase adulta não desista. O mundo é muito tentador nessa fase, precisamos de aliados para mantermos os nossos pequenos comboios nos seus trilhos.

É um trabalho de comunidade, sem dúvida, é a partezinha que fazemos para um mundo melhor.