Corria o ano de 1989/90, eu era aluna do Colégio São José, na minha cidade, no interior de São Paulo.
O Colégio acaba de completar 100 anos, então na altura do meu "fora", o colégio tinha 68 anos, mais coisa, menos coisa...
No dia 7 de Setembro as escolas da cidade participam de uma fanfarra, que desfila na rua principal, para comemorar a libertação do Brasil das garras dos portugueses (kkk), e no São José não era diferente, a nossa fanfarra era muito legal, e participando dela ganhávamos alguns pontos em diferentes disciplinas.
Eu não era uma boa aluna, precisava dos pontos, mas não era boa a tocar nenhum instrumento, e acabava por ficar com um surdo, que era o mais fácil de todos ( e mesmo assim, tocava mal) e muitas amigas que ficavam com as caixinhas de repique e davam um show.
Acho que também era divertido tocar, levávamos para casa o instrumento, desfilávamos pelos cafés em grupos de amigas, fazia parte da fase.
Era bem pior do que esses... |
Não bastasse a humilhação de tocar um surdinho, naquele ano o único surdo que sobrou foi um super velho... ele era bege, gasto, grande. Sair da escola com ele (o surdinho) e ir para os café da D. Leny, era uma vergonha, enquanto as outras meninas tinhas as caixinhas prateadas e brilhantes, lá ia eu com um surdinho que era quase do meu tamanho, Rua Alferes Franco acima...
Não contente com toda a tristeza que o surdinho me proporcionava, ainda consegui piorar a situação.
Num belo dia, estava eu a fazer as unhas numa manicure, enquanto uma senhora, que ficou sentada ao meu lado, esperando o esmalte secar começou a conversar, e perguntou em que colégio eu estudava, e ouvindo a minha resposta disse:
- Eu também estudei no Colégio São José! Aliás eu fiz parte da primeira fanfarra da escola!
Eu eu, sem pestanejar deixei escapar da minha boca a seguinte frase:
- Olhe, então o surdinho que me calhou esse ano deve ser do tempo da senhora, pois está caindo aos pedaços!
....
Sim, eu disse isso, alto e em bom som. Claro que o meu problema não era com a senhora, só conectei o facto de o surdinho ser antigo, com a inauguração da fanfarra... e saiu-me essa pérola.
Escusado dizer que a manicure olhou para mim em pânico, lívida, naquele mesmo milésimo de segundo que eu dou conta da frase que disse e que já não dá para voltar atrás...
Até hoje, quando conto a história sinto um gelado no corpo, que mistura vergonha com arrependimento.
Naquele momento gaguejei, pedi desculpas e disse a célebre frase: Não foi isso que eu quis dizer.
Mas já estava dito. Talvez tenha servido de lição. Hoje dou risada, mas no dia até chorei de vergonha... coitada daquela simpática senhora, podia ter dormido sem essa... enfim, são coisas que acontecem!
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