terça-feira, 17 de março de 2020

Quarentena

Acho que todas as pessoas minimamente informadas sabem do COVID-19, e de como isso tem sido difícil por cá...
Lembro de que quando começou o surto, na China, estávamos a jantar com um casal amigo, vindo do Brasil. Estávamos num restaurante, a assistir aquela loucura da construção de hospitais em 10 dias, aquela aglomeração de gruas, parecendo mais uma ficção!
Aquilo nos chamou a atenção, mas parecia tão longe...
O meu marido chegou em casa, poucos dias depois e disse-me que um colega, também matemático já lhe tinha explicado da dimensão daquilo e da inevitabilidade de ser mundial.
Ainda assim, parecia longe.
No Carnaval estivemos no sul de Espanha, Ayamonte (onde até hoje não surgiu nenhum caso), e na volta, já começamos ouvir do aumento de casos na Itália... fomos percebendo que o bicho estava a chegar... mas parecia que ainda tínhamos tempo...
Desde então, nunca mais fui ao Él Corte Inglés, quem me conhece sabe que isso é um supremo sacrifício, mas teve que ser!
Também deixei de ir aos centros comerciais, o único lugar eram os supermercados, talhos (açougue) e padarias...
E na minha amada Espanha a coisa foi ficando mal...
A Itália ainda num certo denial, mas já se percebia que o bicho tinha vindo para ficar por uma boa temporada...
As notícias iam dando a noção da gravidade!
Houve informações contraditórias, algumas pessoas a desvalorizar, mas as coisas na Itália foram ficando de uma forma que só mesmo quem é muito estúpido não conseguia ver a realidade...
Na Espanha também...
Começámos a imaginar que deveríamos fechar escolas, cancelar eventos, a ideia foi ficando cada vez mais clara...
No dia 11 a noite, acordo para beber água e leio no whatsapp uma mensagem de um pai de um colega da Pipa, que era  basicamente: "fujam, saiam de Lisboa".
Eu decidi naquele instante que as crianças não iriam mais sair de casa. Nem para ir para a avó, que mora dois andares abaixo, mas faz parte do grupo de risco, pela idade.
Também pedi uma licença sem vencimento, ainda bem que nesse momento não havia nada de fora do comum para ser feito no trabalho, decidi assim.
A universidade onde o Jorge dá aulas também fechou as portas na quarta... e cá estamos nós os 4 há 6 dias,tentando nos adaptar a nova realidade. Confinados, quietinhos.
Tenho ido comprar pão e algumas coisas no supermercado, lavo as mãos antes de sair, não toco no rosto de maneira nenhuma.Quando chego já tenho um saco para guardar os tênis, no outro coloco a roupa que foi à rua.
Lavo muito as mãos novamente, e volto ao meu exílio forçado.
Ainda não temos a menor ideia do que vai acontecer, estamos bem de saúde e a trabalhar com as 1500 coisas que os professores andam a enviar para as crianças...
Obviamente pedi que a senhora da limpeza não viesse e tenho tentado manter a casa o melhor que eu posso.
Ainda não deu para deprimir, porque são tantas coisas para fazer...
Aguardamos com uma certa angústia o noticiário, esperando um milagre.
Vamos ver!
Nós, simples mortais, temos que nos contentar com as informações dadas pelos jornais.
Os líderes dos países deveriam ter uma noção profunda do que está a acontecer, muitos parecem que sabem menos do que eu. Fico estupefacta. They should know better!
Até pensei que, com a falta total de discernimento de um representante da nação, pondo em risco um país, abriria um pouco a visão das pessoas, mas hoje já li um post, falando que o PT não construiu hospitais e tal e tal, e acho que é verdade, as coisas não foram bem geridas, houve roubalheira do pior, sem dúvida. Mas em momento nenhum, essa pessoa referiu a falta de bom senso na ação do actual presidente. Sempre será a culpa do PT. Mesmo que o Brasil se afunde na maior crise de resposta hospitalar que possa existir, haverá gente a fazer um esforço para culpar o PT e não ver o que não está a ser feito pelo presidente.
Desisto. Não há maneira de argumentar que a coisa está sendo mal gerida. Desisto, vá, a culpa é do PT, toca a reunir, esse vírus é um histerismo...Vamos festejar.
Meu coração fica pequenino, 80% das pessoas que eu amo estão no Brasil, e eu vejo o barco desgovernado, indo cachoeira abaixo, com as pessoas a gritar: a culpa é do PT!a culpa é do PT!Cachoeira abaixo! Desisto.

1 comentário:

  1. Ficaram "presas" ao trauma passado e não estão a avançar :(. Ou não querem ver

    ResponderEliminar