quinta-feira, 23 de janeiro de 2020

Sobre o bullying...

Hoje, na ida para a escola, surgiu o tema "bullying".
E, por incrível que pareça, esse é um dos temas que a minha filha sempre quer saber a minha opinião.
Tudo começou por ela contar-me que uma amiga lhe disse que as calças que ela (minha filha) usava eram horríveis, assim, sem mais nem menos.
E eu comecei por perguntar como ela se sentiu, e ela disse não ter ligado, mesmo porque não se importava muito com a opinião daquela amiga, só não entendia como ela podia ter tanto gosto em ser ofensiva.
Eu disse que é mesmo esse o cerne da questão, essa vontade de deixar alguém triste, em tentar fazer com que o outro sinta-se mal, na minha opinião, só pode ser um sinal de que algo não vai bem com a pessoa que pratica essa ação.
Daí a minha filha perguntou-me se eu já tinha sofrido bullying, e lembrei de uma vez, estando eu na 1º ano, do 1º ciclo, e que o dinheiro não abundava na casa dos meus pais, ir com o meu avô à uma loja de pesca, e ver uma mochila que eu gostei muito, e o meu avô com sacrifício comprar-me essa mochila. No outro dia fui contente para a escola, mochila as costas, sorriso no rosto... Mal chego, uma colega aponta para a minha mochila e goza muito, muito com ela. Nem me lembro exatamente o que ela disse, mas lembro o sentimento. Além de sentir-me mal por mim, pensava no meu avô e tinha vontade de chorar. Depois o dilema, não queria mais ir com a mochila, mas tinha medo que o meu avô percebesse.
Também, posteriormente, pratiquei bullying com outras meninas, e hoje sei quem são, até tenho contacto com elas, e sinto um profundo arrependimento e uma incrível vergonha de ter sido tão babaca.
Obviamente sei que o problema era eu a sentir-me mal comigo, e para sentir-me melhor, humilhava quem fosse mais fraco, e depois ficava com culpa, e a coisa nunca melhorava.
Depois a gente cresce, os valores mudam, e tive a sorte de conseguir entender as minhas frustrações...Depois de entender, de perceber que elas são minhas e ninguém tem culpa, a não ser eu mesma, aprendi.
Acho que hoje consigo transmitir aos meus filhos um pouco da noção das frustrações, e um pouco sobre compaixão. Quero acreditar que eles sejam boas pessoas.
Meu plano é: conseguir que eles se aceitem como são, sempre dando o melhor de si, mas sabendo que nem sempre o melhor significa ser bom, o Gui é péssimo a jogar futebol, mas dá o corpo ao manifesto, vai às aulas e parece um perdido no meio dos pequenos craques, mas ACEITA, ele é incrível em outras coisas!
Tento ensiná-los a rir deles mesmos! Aceitar que estão longe da perfeição e que mesmo assim, são pessoas válidas e amadas.
Faço tudo o que posso para ajudá-los, mas exijo bastante. Peço desculpas, explico constantemente que falhei, peço que aceitem as minhas imperfeições e acho que tento humanizar as nossas relações.
Enquanto tento educá-los, vou educando a mim mesma, e descobrindo que quem pratica o bullyin também sofre!

1 comentário:

  1. Este assunto é um dos meus maior receios, e espero não falhar em ir dando ferramentas ao Santiago, tanto para saber lidar com as frustrações dele como a dos outros.

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