Uma das muitas vantagens de ter crescido no interior é o facto de cultivar amizades que nascem na infância e perduram uma vida.
Tenho uma amiga que vem de de longa data e de quem sempre gostei muito.
Vivemos muitas coisas juntas, um pedacinho da infância, toda a juventude e na vida adulta ficamos separadas fisicamente, mas a amizade já tinha daquelas fundações que são eternas, tão sólidas que nem nos preocupamos em explicar a razão de não nos falarmos há tanto tempo, ou nem termos tempo de ligar, escrever, mas quando nos encontramos num "mercadão da vida " nos abraçamos e falamos como se ontem à tarde estivéssemos estado juntas. Assim de simples.
Essa amiga tem passado por situações muito difíceis desde o começo deste ano. Ela teve o raio da COVID-19 e passou um bocadão, ao mesmo tempo que ia se recuperando, preocupava-se com a irmã que também estava mal. Foi um começo de ano bem atribulado, nervoso, delicado.
Ela saiu, ficou bem, e todos respiramos aliviados. Me incluo um bocadinho nessa "respiração", mas obviamente eu só ia tendo notícias, ficava a torcer, a pensar, mas pouco ou nada pude fazer. Mas toda a sua família se uniu, chorou, afligiu, sofreu e saíram vitoriosos.
Parecia que tudo iria voltar a seguir o seu curso, sem maiores percalços... mas a vida tratou de colocar a frente dessa amiga, arrisco eu a dizer, a maior batalha da sua vida. O seu marido também ficou com o raio da COVID-19, e aí começou algo surreal, que eu fui acompanhando apenas com relatos.
Não foi só ter a doença, foram tantas coisas que aconteceram ao mesmo tempo que nem eu conseguia acreditar, era ela própria em recuperação a ter que esquecer de si e se dedicar àqueles que mais precisavam dela, o marido, hospitalizado, e os filhos, fragilizados e com a "vida que segue".
Falando em "vida que segue", a própria vida dessa família teve que seguir, não bastasse o seu trabalho de arquitecta, também ela teve que segurar as rédeas do trabalho do marido... Fico eu a imaginar a vontade que ela deve ter tido de gritar: "Para tudo", mas não podia, como num jogo de batalhas, ela teve que ir vencendo uma por uma, para passar para a fase seguinte.
Como num jogo, a vida da minha amiga foi passando por etapas, quantas vezes parecia que ela caía naquele quadradinho: "perdeu todos os pontos, volte para o início do jogo", e ela voltava, apostava todas as fichas, sempre mirando no final, naquela parte do meio do tabuleiro, onde o jogo acaba, ela sai vitoriosa, com a sua família, unida e pronta para voltar a viver em paz.
Depois de 143 dias de hospital, de uma internação que foi uma verdadeira montanha-russa de melhoras e pioras, que ia da quase tranquilidade ao desespero total, o jogo terminou. Essa jogada foi vitoriosa, chegaram os quatro, inteiros, naquela parte final e vitoriosa do tabuleiro.
Ela nunca titubeou nem na fé, nem na esperança, diria até na certeza de que tudo ficaria bem. Apesar dos pesares, a história tem o lado bonito, de mostrar aquele amor e companheirismo que a gente tira o chapéu.
Aquele amor de alma, aquele amor de vida que já está tão junta que parece uma só, aquele amor que nem é apenas homem-mulher, mas aquele amor de conexão de vida, de unidade.
Só agora dei conta que hoje ela faz anos. Parece até final de novela das 8 essa coincidência!
Nessa novela que eu assisti e para mim, essa minha amiga foi a personagem principal, foi A mulher, A esposa, A mãe com mil "As" maiúsculos. Final feliz!
Desejo à você querida Mari, muita saúde, muita paz, muita tranquilidade! Um dia e uma vida muito feliz. Nunca antes dizer um PARABÉNS fez tanto sentido como esse que eu digo agora, PARABÉNS, Mari, PARABÉNS!
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