Há uns anos abriu uma barbearia cá perto de casa, o dono, um brasileiro cheio de simpatia e ideias inovadoras conquistou logo o meu respeito e comecei a levar o Gui para lá cortar os cabelos.
Nas duas primeiras vezes ele cortou com o brasileiro, depois habituou-se a um outro barbeiro deste salão, o João.
Sempre gostei muito do João e o Gui também. E a rotina faz com que a gente não se dê muito conta, mas passaram anos, o Gui era pequenino, hoje já vai e volta sozinho. Isso do tempo...
Eu já sabia que o pai do João também é barbeiro, e que até tinha o
desejo que o filho herdasse o seu salão, em outra freguesia, mas o João gostava muito de
trabalhar onde trabalha, já tinha adquirido uma grande clientela,
gostava de cá estar. Ele contou-me que já se sentia seguro para tentar
abrir o seu próprio negócio nessa área, não por estar insatisfeito
com o patrão brasileiro, mas por ser um caminho natural, uma maneira de
crescer na carreira. Mas também disse que seria incapaz de fazer
concorrência a quem lhe tinha dado uma oportunidade, assim, deixou-se
estar.
Fui lá há poucos dias e o João contou-me a história, que me deu um gosto incrível ouvir: O antigo dono decidiu buscar novas paisagens, e o João que era um funcionário impecável, teve a oportunidade de ficar com o negócio, ele que estava a sentir-se "atado", sem saber muito bem que rumo tomar, de repente, nada fazia prever, teve a oportunidade perfeita, ficar com aquilo que sonhou.
Gui com 5 anos! |
Sorte? Um bocadinho deve ser, mas sobretudo, acredito que foi uma recompensa, por ter sido fiel, ter conquistado uma boa clientela, ter sido responsável. Podemos dizer que ele conquistou de alguma forma aquele espaço. Ele estava radiante, satisfeito, a falar da esposa, do emprego, de um provável ida à Nova York, da compra de um apartamento, enfim, aquela sensação que eu denomino como "fim de novela", onde tudo se encaixa, e os bons recebem uma recompensa.
Isso me faz questionar muito a minha crença, que sempre foi acreditar que algo nos está reservado, é ir levando a vida com retidão, com justiça, com força e as coisas boas vão chegando e acontecendo.
Será? Não sei, mas histórias assim, onde tudo encaixa renova a minha fé!
É bom ver coisas boas acontecendo com pessoas boas!
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