terça-feira, 16 de novembro de 2021

O simples e o "simprão"

 Ser bronco não é ser simples.

A pessoa pode ser simples e ser gentil.Geralmente é. Ela sorri, cumprimenta, é solícita.

Nesse exacto momento me vem a mente duas pessoas com percursos tão diferentes que considero muito simples e muito gentis.

A primeira delas é o Sr. Primo, pai de uma senhora que fazia as minhas unhas. Eu ia na casa dele todas as semanas  e enquanto a filha dele cuidava das minhas unhas ele voltada da sua horta, parava, dava "dois dedinhos de prosa", era simpático, delicado, tinha um "quê" de sábio, coerente. Exalava honestidade e retidão. Falava calmo e mesmo sendo muito humilde tanto financeiramente como em estudos, tinha um ar muito orgulhoso, no seu modo de ser fazia com que automaticamente eu tivesse o maior dos respeitos por ele. Um carinho, não um carinho "coitadinho", mas aquele carinho, misturado com admiração, da sua rectitude, da sua dignidade. 

Outra pessoa extremamente acessível que conheço é um senhor matemático. Ele tem uma Medalha Fields, o que na sua área é o reconhecimento de maior nível. Tive a honra de recebê-lo na minha casa e privar de alguns momentos com ele. Durante essa curta convivência, ele sempre fez um esforço para compreender o meu inglês cheio de erros, sempre mostrou interesse pela minha opinião, pela opinião dos meus filhos. Enquanto passeávamos por Lisboa mostrou curiosidade por tudo, falava sempre com calma, com delicadeza, mas sobretudo, escutava com vontade. Um gigante intelectual no corpo de um senhor totalmente "normal", com uma atitude que eu chamaria sobretudo de GENTIL, assim como o senhor Primo, uma pessoa gentil.

Isso é simplicidade. A simplicidade até me emociona, e pode vir em "embalagens" diferentes e nem consigo imaginar como ela surge, se é aprendida, se vem da personalidade, mas é daquelas virtudes  que  eu mais admiro.

Já o bronco, transvertido de "simprão", ai, que desprezo eu sinto. O simprão fala alto, tentando em cada frase mandar um recado do seu poder, seja financeiro ou qualquer outro. O "simprão" faz piada preconceituosa, para a sua galera "simprona", que bajula o "simprão", ri do que não tem graça, delira quando ele fala algo errado! É uma festa! Até que o "simprão" deixar de estar na mó de cima ele é a alegria dos seus súditos.

O "simprão" come de boca aberta mas anda de carrão, buzina. Tem correntão de ouro, com um crucifixo, é muito devoto, Deus acima de tudo, mas não segue nenhum mandamento, trai, cobiça, não ama quase ninguém, não mata, mas adora ver a polícia a fazer uma carnificina. O "simprão" é corajoso quando se sente seguro, mas inseguro que é, na primeira adversidade se vitimiza.

O "simprão" faz tudo para aparecer. Mas sabe, ele nem tem culpa. Ele é um tonto, tão tonto que nem consegue ver o nada que é. Ele acredita na galera que o idolatra, a galera diz que ele é o máximo, e ele  acredita, se acha mesmo "salvador da pátria", quero dizer, não tem inteligência que chegue para perceber que nada sabe, que é pouquinho.

O "simprão" humilha sempre quando e quem pode. E gosta de mostrar poder, aquele poder bacoco. Mas na mesma medida, se humilha quando se junta com outro "simprão" mais importante. Fica com aquele risinho nervoso, sem saber onde colocar as mãos, sem jeito, perto de um mito ainda maior.

E sobretudo, o "simprão" não é feliz, porque mesmo sendo burro, ele sabe que quando perder o seu poder, será desprezado, perderá o seu secto de fãs, porque mesmo burro, ele sabe que na broncolândia é assim que as coisas funcionam, as pessoas são descartáveis... E quem com ferro fere...

Por um mundo mais simples e menos "simprão"!

 


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