É impossível fazer aniversário e escapar a fazer uma análise do nosso percurso...
Ainda mais quando a idade vai avançando e a história vai ficando cada vez mais comprida e rica.
Fiz 46, e, como sempre achei que passou rápido demais.
Ainda acho que a vida está começando, e já vivi mais de metade dela (com sorte, se chegar aos 90!).
E o tempo todo, vou lembrando de história que me marcaram...Vou contar uma delas:
Acho que no geral, as pessoas no Brasil não são preconceituosas, não ria, é sério. Acho que o único preconceito que o brasileiro tem é com gente pobre.
Pronto, de uma maneira simples, é assim, se a pessoa é rica, pode ser ignorante, ter mau carácter, só falar "abobrinha"...não importa, é rica, está valendo! E infelizmente, no contrário é também verdade, a pessoa pode ser íntegra, culta, criativa, mas se não tem muito dinheiro, para muita gente, "não vale nada"...
Isso é no GERAL, não digo que a população toda seja assim! E é a minha visão, que vale o que vale.
Tanto que é super normal fazer piada com pobre no Brasil (Caco Antibes que o diga!), coisa que eu nunca vejo aqui em Portugal. Aliás, as vezes que eu ri, ou fiz alguma piada, associada a condição financeira de outra pessoa, fui olhada com espanto, não caiu bem.
Tudo isso para que eu chegasse a esse pequeno momento da minha vida, que ficou para sempre guardado na minha memória, que embora não tenha me corrigido para todo o sempre, fica sempre no meu subconsciente...
Tinha eu uns 14 anos, e estava numa "turminha" no edifício "Condomínio Fumagalli" , sentada nas escadas, conversando com os meus amigos, e começa a chover, eu, do alto da minha vida inútil, olho para o ponto de ônibus, e vejo um monte de gente, se espremendo no espaço coberto e na minha idiotice, na minha crença de superioridade, olho para aquela "gentalha" e faço uma observação jocosa, preconceituosa sobre as pessoas que ali estavam (honestamente não me lembro o que disse).
Do meu lado estava o Dario Romeu, um amigo, que deve ser uns 3 anos mais velho que eu, portanto com 17 anos, ele olha para mim, com todo o carinho, e explica, sem dar bronca, o quanto cada pessoa que ali se espremia devia ter trabalhado o dia inteiro, que ali havia pais de família, que ali havia "gente de luta", que muito provavelmente tinha muito valor enquanto pessoa, e que eu, uma garota, que ainda pouco conhecia da dureza da vida não deveria nunca gozar com outras pessoas, só por não terem dinheiro. Fiquei com vergonha, mas o Dariozinho falou comigo parecendo entender que eu estava sendo apenas tonta, não má pessoa.Porque o preconceito muitas vezes é algo que fazemos sem pensar, mesmo por não refletir, repetimos atitudes...
Infelizmente a lição não dissipou totalmente todos os meus preconceitos, mas ela fica ali, latente em algum lugar do meu inconsciente, prontinha para me cobrar, quando sou babaca.
Duvido que o Dario se lembre disso, mas sem dúvida, o que ele ensinou, eu nunca esqueci!
Mesmo depois de de 32 anos...
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