sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Análise em águas salgadas...

Vista do Castelo de Tossa
Eu tive a sorte de morar por uns 3 meses na linda cidade espanhola chamada ¨Tossa de Mar¨, na Catalunha. Nem vou explicar aqui como fui lá parar para não ficar muito comprido e perder o foco da história.
Minha camiseta com o Castelo de Tossa
 Bem, hoje estive a dar uma arrumação na minha gaveta de ¨roupas de ginástica/ roupa de ficar em casa¨, e encontrei essa camiseta (T-shirt)...

Lembrei do dia em que eu a vesti e acho que esse acontecimento resume muito daquilo que eu sou.
Assim, vou contar o acontecido:
Eu soube que iria haver uma travessia a nado, que ia de uma praia a outra ( platja Mar Menuda até platja Es Racó). Já tentei encontrar aqui a distância e não consigo ( O J. disse que na época eu disse que foram 5 km., mas juro que não me lembro), mas imaginem, a gente entra no mar em uma praia, dá a volta em uma língua de areia, que divide as duas praias até chegar na outra praia. Nem imagino a distância, mas acreditem foi bastante.

Então deixe que eu organize muitos os aspectos dessa aventura:
 * eu gosto de nadar, mas não sou nenhuma grande nadadora.
* eu fui sozinha, não conhecia ninguém ali.
* eu não tinha a menor idéia em que consistia a travessia.
* eu me increvi sem ter certeza se iria ou não, acordei tomei um bom café da manhã ( barrigota cheia portanto).

Acordei, e falei para mim mesma:  ¨ Sim, estou disposta, vou!¨ .
Cheguei à praia sozinha, num dia de verão , esperei a hora da largada, e entrei no mar com um montão de gente, assim, alegre e feliz, sem pensar em nada... e comecei a nadar...
Claro que era uma travessia muito bem organizada, havia uma lancha com médico e salva -vidas, que nos acompanhava e observava...mas, eu me pergunto, como fui parar ali? Sem  treino, sem uma companhia, sem nadica de nada...
Não é uma foto da minha travessia, mas é uma coisa muito parecida


No começo entramos numa multidão , muito barulho, uma grande festa, mas passado alguns minutos, estavamos já longe da praia, numa parte bastante funda e o silêncio se impôs, só ouvia o barulho do meu braço a bater na água, o barulho das ondas e não via nunca a reta final.

Nadava, nadava, e cada vez havia menos pessoas ao meu lado, ia ficando pra trás, quase que sozinha naquela quantidade de água, e nadava, nadava, e pensava comigo mesma:  ¨ Maria Eugênia, você é louca? Você sabia que iria ser tão difícil? Você pensou?  E nadava, nadava, cada vez mais sozinha, e fiz a ¨curva¨ na tal língua de areia que dividia as duas praias, e daí via mesmo ao longe a reta final, e nadava, nadava...
Via a lancha com o médico e os salva-vidas e já me imaginava a pedir socorro, mas decidia sempre aguentar mais um pouquinho, e nadava, nadava.

Quanto mais ia ficando exausta mais ria para mim mesma, falava (mentalmente, of course!) comigo mesma e me analisava:
¨ Você foi sempre assim, uma pessoa sem a menor paciência para teoria, para entender como as coisas funcionam antes de colocá-las em prática, você é daquelas pessoas que começam a fazer o bolo antes mesmo de ler a receita inteira com cuidado, e sempre erra alguns passos por isso. Você é incapaz de refletir bastante antes de tomar a atitude, e depois olha aqui você, Maria Eugênia, quase que morrendo afogada no Mar Mediterrâneo, sem ninguém a lhe esperar na reta final, se você se afoga, nem sabem aqui o seu  nome... Será que você consegue ser mais calma na próxima?¨

Obviamente não morri afogada, nem pedi ajuda aos salva-vidas, tinha que manter um pouco da minha dignidade, uma vez que ao meu lado só havia uma senhora de pra aí uns 78 anos...

Nadei, nadei e cheguei, e ria, ria de mim mesma.
Aprendi com a experiência? Sim e não. Sim no sentido de que naquele momento entendi melhor o meu próprio ¨eu¨ . Não no sentido que tenho muita dificuldade em mudar essa minha natureza, mesmo sabendo que as coisas poderiam ser feitas de outra maneira.

E me pergunto muitas vezes, será que é melhor acreditarmos que estamos certos e fazer a coisa errada, ou fazer a coisa errada, mesmo tendo consciência disto, só por impulso?  Eitâ natureza difícil de domar!

Ganhei essa história e essa T-shirt... e acho que essa t-shirt tem que ganhar um final mais feliz do que ficar na companhia das ¨roupas de ginástica/ roupas de ficar em casa¨ , mas isso será história para outro post.

2 comentários:

  1. Gê, que lugar lindo! E que história, hein!? Me diverti muito agora! Depois pode contar como foi morar lá por 3 meses? Não sabia ou não lembrava disso.
    Mas que você conhece muitos lugares, é verdade né! Não só conhece como também se aventura neles! Adorei! Beijos.

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    1. É bonita mesmo...linda cidadezinha... saudades daquilo...
      Vou contando as histórias devagar e sempre... se conto tudo de uma vez acaba o blog... tenho que esticar para a vida parecer interessante! beijos

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